Quem sou eu

Minha foto
Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

9 de ago. de 2011

Capoeira da Vida





Capoeira da Vida

Makulelê príncipe era
Em sua tribo africana,
Aprisionado numa guerra
Fora vendido como cana.

Transportado como bicho
Se morresse era menos um
Se vingasse o lucro era bom.

Em um nicho de imundície
Num lugar superlotado comum
A dor cantou forte em raivosa sandice
Tentando reinar com seu tom.

E Makulelê não compreendia
Por que fora lançado para morte
Buscava em vão um sentido para tal sorte
E viu passar a alegria pelos seus saudosos olhos.

Fora arrancado de sua terra
E Jogado num navio imundo.
Lutava agora uma interna guerra
Entre as luzes e trevas de seu mundo.

Seu nome fora mudado
Seu destino fora traçado
Por senhores de escravos, brancos.

Seu corpo fora examinado
Como boi fora marcado
Mas sua alma não se rendera aos prantos.

Conservou em seu peito
O sonho de liberdade
Fez de Jesus, seu Senhor eleito,
Sua evidente verdade.

Do horizonte da verdejante fazenda
Viu mais além um dia radioso.
Esperou o sol voltar para sua senda
Pôs em ato seu plano primoroso.

E pelas brenhas do mato foi fugir
Guiado pela silenciosa e prateada lua
Mas vários houve a lhe perseguir
Capitães do mato alcançaram a carne tua.

E fora açoitado ao limite da morte
E lembrou-se do exemplo do Deus vivo, Jesus.
Que aos homens pregou e fora,
Por eles, pregado na cruz.

E pediu, a exemplo do divino mestre,
Por seus carrascos sincero perdão.
Seus olhos bradaram um lume genuíno
Guardou paciente uma singela oração.

Mostrou-se humilde, manso e paciente
E labutou em silêncio por vários meses.
Recordou-se de seus antigos parentes
Engenhando mudo o alicerce de uma nova arte.

Camuflada em dança e diversão
Com palmas, canto, percussão.
Adicionou golpes de animais
A suas danças ancestrais.

Ginga, giro de pernas, cabeçada,
Marcados por um instrumento de uma corda só
Mas capaz de tocar qualquer música orquestrada.
Com sua cabaça é capaz de tocar toda a escala de dó.

Luta sábia e traiçoeira
Busca a fraqueza do inimigo.
Arte ritmada e mandingueira,
No vacilo alheio faz seu abrigo.

É ataque e defesa a um só tempo
Oferecendo seu corpo em sacrifício.
Dando-lhe a cara pra bater...

Mas eis que se esquiva em último momento
Desferindo forte e lépido artifício
Que derruba o outro sem ele perceber.

Makulelê adicionou acrobacias
À capoeira de pura resistência.
Sua alforria com as pernas ele ganhou
Os anos lhe dotaram de malícia e paciência.

Seu quilombo fora encontrado
Com mosquetes seu corpo fora alvejado
A morte, por fim, veio lhe guiar...

Admirada com o edifício que ele construiu,
A pretérita história do nascente Brasil ficou.
Sua triste escravidão, sua liberdade a conquistar.

Zabelê Makulelê,
Símbolo do povo malê,
Alma livre do escravo que persistiu.

Sincretizou sua religião
Engenhou sua própria canção
Na luta, arte e dança que construiu.

Capoeira é arte de resistir
De levantar das rasteiras da vida
É um caminho criado para o livre sonhar.

Vai Zabelê jogar em outros ares
Mas nos oferte sempre tua sabedoria de vida.
Ensina-nos a derrotar nossos próprios males
E a fazer da humildade, a corda firme
Que sustentará nossa vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário