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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

31 de ago. de 2011

Alice no pais das desventuras



Alice no país das desventuras

Ao invés de adentrar
No mundo das maravilhas,
Alice se diverte
Na escuridão noturna
Das madrugadas irrompidas,
No torpor das drogas consumidas.

A luz do dia, em seus olhos,
Irradia ressaca e tédio burguês.
A noite em seus mistérios convida
A uma caverna de sons e
A mais uma bebida...

A voar nas rodas
De qualquer Pégassos errante
E a delirar nos ardentes sons
Da inefável flauta de alguém
Que a lembre Pã...

Alice só quer se divertir,
Liberar fantasmas reprimidos
E paraísos artificiais consumir
Avessa à hiprocrisia social

Mas Alice entorpecida
Não vê que acabou se tornando
Aquilo que mais desprezara...

Pensando ser rebelde
Em radiante causa nobre
Ela um dia se descobre
Consumidora do descartável
Sendo uma outsider
Do hipócrita sistema burguês.

A música que Alice compõe
Faz uso de acordes
Que nos ajudem a acordar
Da suposta sandice que há
No nosso sistema social capitalista.

Mas quem sou eu pra julgar Alice
Se em meus versos,
Repletos de maluquices,
Estão fartos de ecos dissonantes
De canções compostas no mesmo sistema?

Vá Alice em seu trajeto consumista
Quem sabes encontras um heroína
Que te conduza a um real caminho...

Ou quem sabe uma loira gelada
E maldito cigarro te levem
A filosofar ilusórias verdades...

Ou a companhia do vinho
No enredado banquete
De improvisadas filosofias
Advindas de improfícuas banalidades.

Eu, amante dos versos,
Consumidor de palavras e idéias
Não sei que caminho traçar...

Talvez um dia encontre Alice
Em qualquer encontro de ruas
Perpendicular...

No movimento do mundo
Do qual só a Providência há de saber
Ou mesmo o Acaso,
Senhor das causas materialistas.

Não sei!
Nem sei se um dia quererei saber!
Alice a seu modo noturno
E eu em minha cadeira, pueril e soturno...

Tentamos, a nosso modo,
Encontrar algum abrigo
Em meio ao constante perigo
De habitar, não passageiramente,
No país tétrico das desventuras. 

23 de ago. de 2011

Queda e Ascensão



Caí!
Sozinho caí!
Fui ao chão, o da realidade,
Quando o alçapão ilusório
De meu mais carente desejo
Se me fez presente 
A cobrar seu preço...

Sua aparente solidez
Evanesce ao constatar sua matéria.
Sua coesão vaporosa se desfez
Se firmando a solidão, a dor,
E a frieza insuportável da Sibéria.

Mas heis que alguém me surge
E facilmente me auxilia a levantar.
Será que era alguém real
Ou será um outrem projetado
Dos contatos introjetados
Que outrora tive?

Alguém...
Senhor em fantasia ou realidade,
Alucinação ou de carne e osso,
De verdade, alguém...

Que permeia até hoje os meus sonhos
Que se imiscui por entre vários nomes
E que assume perante mim
Morfologias diversas,
Desconhecidos sobrenomes.

Me estendeu sua mão
Rija, segura e firme,
Mãos de carpinteiro,
Que me suspendeu por inteiro
Do gélido e solitário chão.

E tive então meu corpo erguido,
Minh'alma aquecida.
O meu olhar fora vertido
Do chão ao inefável infinito.

E heis que me fora 
Mais que me soerguer do chão,
Mais que companhia ao coração
Ou qualquer equipamento
Pra me aquecer do frio...

Fora transcender a dor
Da queda derradeira.
Fora preencher uma falta
Presente a vida inteira.

Encheu-me novamente
De esperança
Tal qual criança
Tateando a vida
Que se lhe apresenta.

Parafraseando a máxima sartreana
"O inferno são os outros!"
Digo-lhes que são também
Confusa e Paradoxalmente
Nosso potencial paraíso.

Ao nos ofertar
Nosso próprio lado oculto
Ao nos convidar
Para conhecer um novo mundo

Ao nos presentear
Com a humanidade
Que afugenta o vulto
Da constante, indesejável,
Desditosa e fria companhia
Da solidão...

17 de ago. de 2011

Olhar Soturno


Olhar Soturno

Meu olhar perdeu seu foco
E  inerte diz ao teu: Adeus!
Abandona-se à própria sorte
Flertido sobre o gigante e indefínivel
Infinito...

Ele se esvai e sólido, 
Sublinha o próprio ar
Numa sublimação desvairada,
Regrada pelas leis da Loucura.

Pra' onde se lança
Esse olhar contemplativo
E ao mesmo tempo ausente?
Onde repousa seu destino?

Não sei e talvez nunca o saberei!
Mas se o meu olhar como dizes:
"Desvaria!"...

Ele não há de badalar
Ruidoso sino presente
Em sua majestosa e solitária
Torre de marfim?!

10 de ago. de 2011

Presente meu no niver teu!



Presente meu no niver teu

Ontem e hoje, aqui e lá...
Tempo e espaço se entrelaçam
Num ósculos de astros
Luminosos e noturnos.

E eu, antes soturno,
Filosofava banalidades
Numa superficialidade intrigante...

Me vejo agora em meu quarto
Com a pena em punho, 
Em frenética inspiração,
Tentando registrar um misto
De carinho, atenção e atração...

Como fora difícil frear
A vontade de unir meu corpo ao teu
Ao descobrir teus pontos-fracos:
Portais de obscenos desejos.

Esquentar teu corpo
Com meus mais ardentes desejos
E experimentar mil maneiras
De provar e roubar teus beijos.
  
Noite mágica
De ciclo e renascimento teu
Onde a noção de tempo e o espaço
Se encontram em surreal evanescimento.

À cada esquina, o sinal vermelho
Nunca me fora tão bem-vindo:
Para reencontrar teus lábios
Em ardentes desejos, 
Sensuais ebulições...

Manter a atenção
Era quase que tarefa impossível,
Pois os teus beijos e cafunés
Me endereçavam a outro maior
E melhor foco: você!

Nunca me fora tão penoso
Lidar com as sociais convenções.
Deixar-te em teu próprio lar,
Fora causa de torturantes frustrações.

Abandonar meu desejo à tua porta
Ao singelo e inefável nascer do sol.
Fez cair o ocaso em meu desejo

Dormi pouco esta manhã
Sem ressacas e sem lamentos.
Só a sensação de um meio contentamento:
De te-la em meus braços
E te levar ao teu alvo lar. 

9 de ago. de 2011

Capoeira da Vida





Capoeira da Vida

Makulelê príncipe era
Em sua tribo africana,
Aprisionado numa guerra
Fora vendido como cana.

Transportado como bicho
Se morresse era menos um
Se vingasse o lucro era bom.

Em um nicho de imundície
Num lugar superlotado comum
A dor cantou forte em raivosa sandice
Tentando reinar com seu tom.

E Makulelê não compreendia
Por que fora lançado para morte
Buscava em vão um sentido para tal sorte
E viu passar a alegria pelos seus saudosos olhos.

Fora arrancado de sua terra
E Jogado num navio imundo.
Lutava agora uma interna guerra
Entre as luzes e trevas de seu mundo.

Seu nome fora mudado
Seu destino fora traçado
Por senhores de escravos, brancos.

Seu corpo fora examinado
Como boi fora marcado
Mas sua alma não se rendera aos prantos.

Conservou em seu peito
O sonho de liberdade
Fez de Jesus, seu Senhor eleito,
Sua evidente verdade.

Do horizonte da verdejante fazenda
Viu mais além um dia radioso.
Esperou o sol voltar para sua senda
Pôs em ato seu plano primoroso.

E pelas brenhas do mato foi fugir
Guiado pela silenciosa e prateada lua
Mas vários houve a lhe perseguir
Capitães do mato alcançaram a carne tua.

E fora açoitado ao limite da morte
E lembrou-se do exemplo do Deus vivo, Jesus.
Que aos homens pregou e fora,
Por eles, pregado na cruz.

E pediu, a exemplo do divino mestre,
Por seus carrascos sincero perdão.
Seus olhos bradaram um lume genuíno
Guardou paciente uma singela oração.

Mostrou-se humilde, manso e paciente
E labutou em silêncio por vários meses.
Recordou-se de seus antigos parentes
Engenhando mudo o alicerce de uma nova arte.

Camuflada em dança e diversão
Com palmas, canto, percussão.
Adicionou golpes de animais
A suas danças ancestrais.

Ginga, giro de pernas, cabeçada,
Marcados por um instrumento de uma corda só
Mas capaz de tocar qualquer música orquestrada.
Com sua cabaça é capaz de tocar toda a escala de dó.

Luta sábia e traiçoeira
Busca a fraqueza do inimigo.
Arte ritmada e mandingueira,
No vacilo alheio faz seu abrigo.

É ataque e defesa a um só tempo
Oferecendo seu corpo em sacrifício.
Dando-lhe a cara pra bater...

Mas eis que se esquiva em último momento
Desferindo forte e lépido artifício
Que derruba o outro sem ele perceber.

Makulelê adicionou acrobacias
À capoeira de pura resistência.
Sua alforria com as pernas ele ganhou
Os anos lhe dotaram de malícia e paciência.

Seu quilombo fora encontrado
Com mosquetes seu corpo fora alvejado
A morte, por fim, veio lhe guiar...

Admirada com o edifício que ele construiu,
A pretérita história do nascente Brasil ficou.
Sua triste escravidão, sua liberdade a conquistar.

Zabelê Makulelê,
Símbolo do povo malê,
Alma livre do escravo que persistiu.

Sincretizou sua religião
Engenhou sua própria canção
Na luta, arte e dança que construiu.

Capoeira é arte de resistir
De levantar das rasteiras da vida
É um caminho criado para o livre sonhar.

Vai Zabelê jogar em outros ares
Mas nos oferte sempre tua sabedoria de vida.
Ensina-nos a derrotar nossos próprios males
E a fazer da humildade, a corda firme
Que sustentará nossa vida.