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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

11 de nov. de 2011

Ilusões Movediças...


Ilusões Movediças...

Em nosso registro corporal
A primeira impressão sensorial
É aquela à qual nomeamos dor...

O ar que adentra aos pulmões,
Numa incursão de sopro vital,
O desconforto da luz,
E o calafrio do mundo
Em nossa fina e frágil pele.

Dor! Descrita como angústia
Provinda de fonte indeterminada.
Nascer e morrer,
Experiências de caráter indefinido.

Cruz e Sousa, nacional simbolista,
Descreve tal angústia como:

"Tristeza imponderável
Abismo mistério aflito.
Torturante formidável
Ah! tristeza do infinito".

Existir é suportar o fardo,
É por nas costas pesada cruz.
"Meu reino não é desse mundo"
Nos disse Deus encarnado, Jesus.

Será o mesmo de Platão:
O reino etérico e real das idéias?
E o nosso, o da matéria, 
O reino das sólidas
E vaporosas ilusões?

E o ventre materno nutriente e protetor,
Não seria perfeita metáfora da caverna alegórica 
Dos medos e crenças que nos acorrentamos,
Sólida e obsessivamente em nosso introito de vida?

Seremos sempre ignorantes e fúteis
Ou até mesmo sábios cegos tateando elefantes
Tecendo hipóteses que são 
"corretas em partes
mas completamente erradas"?

Só nos é possível conhecer em parte.
Será que um dia ,lúcidos, veremos face a face,
Como predito por Paulo de Tarso?

E Freud, o que explica tudo,
Não diria que a felicidade a rigor
Não repousa nas claridades desse mundo...

E para tanto buscamos alívio
Em um objeto inalcançável fetichizado, 
Promessa evanescente de felicidade...

Ou talvez na relação humana,
Nosso inferno e paraíso,
Ou na fé religiosa ou a douta científica
Ou mesmo em quaisquer das manifestações
Bizarras e profanas da sexualidade.

Ou quem sabe na poesia
Repouse algum alento possível.
Na impossível tarefa de transformar
Letra e sintaxe em tradutores perfeitos
Das inefáveis sensações.

Ou quem sabe nas drogas entorpecentes,
Remédios ou venenos de consumo
Que nos livram da dor
E nos afogam em sensações
De plena satisfação instantânea
Corporal, solitária, indefinível...


Arre! Quantas hipóteses sapientes e incoerentes
Buscarei refúgio nos canção do falecido Raul:
"Pare o mundo que eu quero descer!"


Buscando fugir dessa salada metafísica indigesta
Me deparo com a hipótese kierkegaardiana
De que mesmo a morte não é doença mortal,
Não encerra a finitude do eu e seu desesperar.

Então parafraseio estrofes curtas 
De anônimo autor, que pichou, 
Em um muro cinza, 
Desbotado e desconhecido,
Versos de angústia social e íntima,
Mas mais que moderna:

"Deus está morto,
Freud morreu
E eu não tô me sentindo
Nada bem"