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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

27 de jun. de 2011

Esquina e Brisa



Esquina e brisa

É isso o quê,
O que é isso que você diz?
Eterna indefinição nominal
Tal qual nada,
Palavra usada nas frases enraivecidas
Ou mesmo em relações distantes.

Mas o que será isso
Que você aponta e define?
Tão amorfo e impreciso
Que de tão sólido se desmancha no ar?

O que é isso?
Pelo amor de Deus me diz
O que inconscientemente todos sabem
E que eu, ator, não sei?
E veem e ouvem tudo
Pelas frestas de onde vacilei.


É isso aí companheiro!
Isso que nada diz
Que traduz tudo que já perdi.

Quero escrever sem escolher palavras
Pois elas erram em sua única e preciosa função
Que deveriam executar com maestria:
Falham na possibilidade de exprimir completamente
Aquilo que sensivelmente, pelas bordas do corpo, percebi.

Quero escrever sobre o vazio
Que preenche, mas como poderia eu
Encher de palavras o que é eternamente
Ausente?

Eterna dúvida
Infinito paradoxo
Que se instaura na “desrazão” humana...

Humanos,
Somos nós humanos
Com os braços erguidos ao ar, mantidos,
A sustentar os extremos esquecidos.
Os opostos, sonhos e pesadelos,
Alegrias reais e desmedidos desesperos,
Saciedade espontânea e o vazio do degredo.

Sofro na ânsia de me libertar,
Pulo no ar mais intempestivo
E sussurrando declaro que não posso gritar,
Nem me nomear senhor de meu desejo lascivo.

Quero os cabelos molhados
Pela fina e leve chuva.
Quero os tesouros sonhados
No fim de uma breve curva.

O pequeno desvio traçado
Pela sutil ação do vento
Que torna alegre, o tétrico passado,
Pela erosão de dorido pensamento.

E vejo hoje,
Já com os olhos doloridos,
A verdade que me assombra
Por frágeis ilusões envelhecidas.

Eu bem lhe digo
Que queria novamente
O não saber onde se destina
A inefável brisa matutina...

Mas ao mesmo tempo lhe digo
Que adoro saber paulatinamente
O que se encontra esquecido,
Oculto detrás de cada esquina...

21 de jun. de 2011

Perdido e Apaixonado



Perdido e Apaixonado!

Dizem que estou mais bonito
Meu sorriso, meu olhar e até a pele
Estão revigorados e me dizem: Paixão!
Mas por dentro estou em grande conflito
Te amo e tua ausência sempre me fere:
Rio e choro a qualquer triste canção.

Hoje eu acordei chorando
Cheio de ciúmes e de angústia
Por não poder ter você ao meu lado
E ter medo de estar te adorando
E que alguém venha ficar no meio
E me roube teu desejo, eu me torne indesejado.

Meu pranto tornou-se riso
Quando lembrei que o teu sorriso
Faz minh'alma se animar.
Teu olhar melhora o meu
O lume dele me reaqueceu
Me faz vivo e me faz sonhar.

Estou apaixoando!
Aprisionado aos desejos da paixão
E açoitado pela senhora Saudade.
Para um grande amor há igual tristeza,
Mas desejo sempre toda a beleza,
Singela e inefável, de tua singularidade.

15 de jun. de 2011

Meu Sincero Intento

 
       
Meu Sincero Intento

Amor,
Que palavra enfim o define?
Qual cantor, por fim,
Com singelos e perfeitos versos, o rime?

Posso dizer que é algo entre, no mínimo, dois,
E que em o seu simbolismo se revela uma ligação,
Não tão excitante e mortal quanto a paixão,
Mas nega a seriação e diz que o "um" se faz de dois.

É se mostrar nas virtudes e nos medos,
E ter as máscaras disformes pelo tempo,
E estar desnudo mantendo velhos segredos...

Em face das imperfeições, haver contento,
Ao ter contato direto com os defeitos alheios.
È dialogar e conquistar, ao invés de por arreios.

É cantar e rir nos tempos de alegria,
Emprestar ouvidos e ombros nos de melancolia.
È falar mais que com palavras, com simples olhar...

É algo de inexplicável,
Transcendental e inefável,
Só passível de se ter ao se doar...

È dedicar todos os sonhos
E todas as virtudes ao objeto amado.
È simplesmente devanear
Variadas formas desse desejo ser concretizado.

È espelhar-se naquilo que não se tem,
É mais que adorar e mais que querer bem.
É suportar mutuamente as dores da caminhada.

É estar para sempre unido
Em uma longa, sinuosa e bela jornada.
E curar com respeito e ternura, o pé dorido
Ao pisar nas pedras escondidas da estrada.

E quando as forças, diminuírem,
Acompanhado repousar no leito
E no amado peito fazer abrigo.

E ver as tristezas e desânimos ruírem
Quando com um olhar, de novo, se encantar
E saber que amas e que ela está a te amar.

A ti, Linda, dedico este canto,
A descrição que, do amor ,eu pude fazer,
Pois o teu olhar me infligiu tal encanto
E sempre em meus braços, quero te ter.

Peço a Chronos, senhor do Tempo,
Para, os nossos momentos, multiplicar.
Para eu por em ações o meu sincero intento:
De te amar...

12 de jun. de 2011

Eu composto


Eu composto...

eu sou invisível,
visível apenas no oculto,
imperceptível, inconsciente...

sou, da escuridão, residente,
sou reprimida emoção.
o sangue que está retesado
 e o ódio que se encontra enjaulado.

sou seu eu escarnecido,
sou teu mudo gemido
na solidão dos teus ruidosos ais...

Sou eu sendo teu,
Sorrateiro fantasma:
esgueiro-me da luz,
peso anormal de tua culposa cruz.

Mas estou farto de parasitar-te
já cansei de tal maldita arte.
sou teu tétrico vampiro
que se recusa a, de ti, alimentar-se.

Sejamos honestos!
Sejamos alertas!
Caminhemos juntos,

Embora de tudo diverjemos,
mas ao invés de nos agredirmos
Por que não nos unirmos?

Pois sou meu pai e minha mãe
sou o masculino e o feminino,
sou o amor e o ódio,
teu sonho e pesadelo,

Sou vulcão e gelo...
sou, por fim, todas as emoções
singulares que residem em mim.

7 de jun. de 2011

Silenci-ar



Silenci-ar

Busco refúgio para a alma,
Um silêncio em meio à correria urbana,
O mutismo das múltiplas pressões
Da sofrida existência humana

O silenciar, o silêncio do ar,
A me oferecer confortável abrigo
Dos monstros, dos receios e dos perigos internos...

O silêncio que nos remete ao nada,
Ao que é inefável da vida
E que nenhuma palavra o pode expressar
E que os sentimentos só o podem levemente tocar
Uma ínfima nesga de seu sublime infinito.

O indecifrável, complexo, singelo e bonito,
Maestro formidável de maviosas melodias.
O motor da voz que se finda e se inicia,
O catalisador das mais puras expressões divinas.

O silêncio do mundo que habita em mim
O gérmen fecundo de um eu
Que reverbera ao som de outras vozes

Pois, quando a plenitude se evanesceu,
Por fim, meu ruído teve um sentido
Repleto do vazio essencial que,
A um novo ser desejante, gera...

Criatura enredada no resmungar
De minha última Quimera...
E eis que se faz presente
A tua voz ausente
Que a meus gritos vem silenciar.

3 de jun. de 2011

Amizade


Amizade
dedicado a Alessandra Laval.
                                   
Palco de intimidades
De diálogos livremente dirigidos,
Edificados em elogios e cumplicidades,
Nas ilusões e dores que admitimos.

O desejo de estar presente
De confidenciar as novidades
Sem fazer abusar de sexuais intimidades...

A Paixão se faz ausente,
Pois se encontra alhures, em distintos campos.
Se revela uma senhora que repousa seu véu
Em outros cantos.

Eros não faz morada
Onde o Fillos governa,
A relação sexuada se vê sublimada
Em recíproca satisfação interna.

Minha amiga,
Minha confidente,
Vês além da máscara minha...

És a fiel inimiga
Do tédio, do medo, do sonho descrente
Previne perigos, antecipas sucessos, certeira advinha.

Vigia alerta dos meus sonhos
Amuleto eficaz contra pesadelos,
Que se alegra com meus chistes enfadonhos.
És o porto do riso a dissolver o siso
Com teus fárois, teus zelos...

Quero-lhe também da mesma forma
Me regojizo igualmente com teu riso
E quando boa notícia me informa
Compartilho, mesmo longe, teu paraíso.

Teu siso vem meu sono tirar
Pois se me faz insuportável tua dor
Invento bobas piadas, tento te levar
Pra tomar novos ares e
Recarregar teu próprio amor.

Vai segue teu caminho
Que daqui ficarei vigilante.
Me diz quando te feres com um espinho
Que me apresentarei como enfermeiro
Do teu belo riso, adorável, inexorável,
Antioxidante...

1 de jun. de 2011

Filogenias do Desejo

Filogenias do Desejo

Da ciência, os mestres,
 Buscam em vão decifrar
As escolhas que,
Do amor, nós fazemos. 

Com mil análises
Desejam desmistificar
O que há tempos sentimos
 E que a razão, até hoje,
Não sabemos.

Amor,
Tema antigo
 De filósofos e poetas.
Afeta a todos
― Leões, deuses, vampiros,
Ascetas....

Que, alvejados pelas setas
De Eros irracional
Alucinam, cegos de desejo,
Devido ao veneno passional.

 A beleza
Que põe a mesa
E que, por conseguinte,
Desforra nossa cama,

Diz que a prole
Será sã, à natureza 
Pois é por nossa espécie
Que a gente ama.

A perfeita simetria
Das curvas seduz
E declara que o corpo
Está em boa harmonia.

O rosto hermético
Sempre produz
De descabelar-te, pós-sexo,
A fantasia.

A inversa proporção
 Entre a tênue cintura
E os quadris
― fartos, largos, gostosos...

Quer nos dizer que,
De DNAs, a nossa mistura
Formará filhotes
 De pedigrees airosos.

A agonia
E a saudade,
Por estar distante
Do ser amado,

É abstinência,
Em realidade,
Do vício de Amar
 Insaciado.

A exótica beleza
Que nos leva
A voar ao céu
E a conversar
Com as estrelas,

Tem sua razão escondida
Nos pomos de Eva:
É em nossa ninhada
 Que reconhece-la-emos.

Os biólogos, por fim,
O sexo rotulam
Como mero instrumento
Para a espécie não perecer.

E os psicanalistas,
Nas relações procuram,
Desvendar as estruturas
Que sustentam o humano prazer.
 
Decompondo sentimentos
Em bioquímicas reações,
Descubro que até
O mais ardente beijo,
É só mais um dos
Orgânicos procedimentos.

Salivares enzimas
Em perfeitas interações.
É dentre todas línguas
A tua que eu desejo.

O orgasmo sexual
Faz a fêmea captar
Mais e mais gametas.
O prazer à serviço
Da reprodução.

E eu que achava,
Fenomenal encarar o gozo
Como explosão magmática
Dos planetas.
 
Nós somos
Eternamente
Desnaturados
Pelas tramas da cultura.

Dotados de
Pulsão, desejo, censura,
Fugindo da concepção
E buscando o prazer
Para não somente,
Sobreviver.

Amo
Em ti
O que em mim
Não posso
 Contemplar.

O que não há
Em mim
No que existe em ti
È que posso me
Completar.
 
Se meus defeitos
Puderes suportar
E se em teu olhar,
O meu verso
Se espelhar,

É que projeto.
Em ti,
O que falta em mim.
Um mar de desejos
Em ondas constantes, sem fim.

Cala-te razão!
Basta de tantas filosofias!
Um brinde à paixão,
A eleger sempre
Tresloucadas dinastias

E a declarar, sem mistérios,
A lei real, do louco desejo:
“― Deves da amada roubar
Mais que centenas de milhões
De beijos.”