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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

4 de jul. de 2011

Desejo....


Desejo

O crime do homem é desejar
Aquilo que não tem!
E se empenha e lima
E tece e sua e nada...
Somente um prazer fugaz
Se faz sua companhia.

Seu alvo agora tangível,
Evanesce seu desejo em vaporosa
Fumaça de mera ilusão.

Almas gêmeas, salário perfeito,
Família em harmonia completa,
Ser dono de si mesmo,
Ser autônomo, autêntico,
Intangível, inatingível, invencível...

Como construir uma casa perene
Em terreno alagado e movediço,
Pois heis que nada permanece,
Tudo enfim está.
Tudo que há provém
De eternos passageiros
De uma estrada sempre mutante.

Ânsia de poder,
Pai da vaidade, mãe da inveja.
Vontade de deter
Ao outro tortura e sufoca.

Ser o tal self-made-man,
Uma ilha solitária num
Oceano de outras ilhas.

Ser mestre de si controlador
Dos próprios sentimentos.
Um obsessivo perseguidor,
Burocrático compulsivo,
Ou ser soldado de um sórdido
E imutável mandamento.

Se não desejo sou automato,
Uma máquina ausente de sentimento.
Se sou desejo, sou descontentamento,
Pois de tudo que possa usufruir
Nada é o que por fim, me restará.

Talvez eu deva desejar,
Amar alguém sendo uma ilha,
Um arquipélago de outros planos
E mortificar o eu que
Um dia pensei ter criado,
Afogando-me nas mornas
Águas da morte vida.

Sou criminoso de nascença.
Minha herança filogenética
É a pena de morte do meu corpo
Que sonha, sofre, regozija
Com o sabor do teu beijo.

Se já nasci pecador
        Que culpa terei eu de tal tormento?
Posso escolher meu desejo,
Ser rei liberto de tal julgamento
Por um bom comportamento
Endereçados a outros
Da minha comunidade?

Minha sentença é perdoar
Setenta vezes sete,
Amar a Deus
Em todas as suas formas sublimes
E ao outro como um irmão transcedental.

E tem que ser por meu desejo,
Do meu alvo, puro e terno
Coração pois senão todo ardor
Terá sido em vão.

Transmutar egoísmo em altruísmo
Transformar a dor em saúde
O rancor, a mágoa e a maldade
Em benevolentes formas de amar.

Desejo tudo que tem forma
E o que me é disforme,
O que se me apresenta
E o que me é oculto,
O que já foi visto,
O que vejo e o nunca visto.

Desejo tudo e encontro o nada
Em sua falta de identidade
E consequente negação.

Desejo-te e nada mais!!!
Meu foco se fixa e me cega
E me aprisiona ao teu desejo
De um dia, por fim,
Tu possas vir a me desejar.

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