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Este é um espaço dedicado à exposição e divulgação de singelos poemas originários de um personagem fictício francês, inebriado de sonhos e embriagado com devaneios. O sobrenome de tal personagem é um trocadilho com a palavra "fantaisie" que significa devaneio em francês. Jacques é um aedo que teima em devanear por entre os não-lugares desse mundo, por sobre os valores há muito esquecidos e os sonhos que se encontram aturdidos nas malhas sócio-históricas nas quais nos encontramos. É um poeta de um mundo moderno que persiste em sua idealização idílica e fantasiosa, ora melancólica ora radiosa, sobre as intempéries do seu alucinante coração. Sem mais, espero que gostem, comentem, reclamem, sugiram e até corrijam alguns impropérios desse jovem velho cantor. Que o ar fantasiante de Jacques Fant'Aisier se faça presente a todos e que acima de tudo reine a esperança por entre a correria e pragmatismo do nosso real mundo humano. Abraços a todos os visitantes!!!

1 de jun. de 2011

Filogenias do Desejo

Filogenias do Desejo

Da ciência, os mestres,
 Buscam em vão decifrar
As escolhas que,
Do amor, nós fazemos. 

Com mil análises
Desejam desmistificar
O que há tempos sentimos
 E que a razão, até hoje,
Não sabemos.

Amor,
Tema antigo
 De filósofos e poetas.
Afeta a todos
― Leões, deuses, vampiros,
Ascetas....

Que, alvejados pelas setas
De Eros irracional
Alucinam, cegos de desejo,
Devido ao veneno passional.

 A beleza
Que põe a mesa
E que, por conseguinte,
Desforra nossa cama,

Diz que a prole
Será sã, à natureza 
Pois é por nossa espécie
Que a gente ama.

A perfeita simetria
Das curvas seduz
E declara que o corpo
Está em boa harmonia.

O rosto hermético
Sempre produz
De descabelar-te, pós-sexo,
A fantasia.

A inversa proporção
 Entre a tênue cintura
E os quadris
― fartos, largos, gostosos...

Quer nos dizer que,
De DNAs, a nossa mistura
Formará filhotes
 De pedigrees airosos.

A agonia
E a saudade,
Por estar distante
Do ser amado,

É abstinência,
Em realidade,
Do vício de Amar
 Insaciado.

A exótica beleza
Que nos leva
A voar ao céu
E a conversar
Com as estrelas,

Tem sua razão escondida
Nos pomos de Eva:
É em nossa ninhada
 Que reconhece-la-emos.

Os biólogos, por fim,
O sexo rotulam
Como mero instrumento
Para a espécie não perecer.

E os psicanalistas,
Nas relações procuram,
Desvendar as estruturas
Que sustentam o humano prazer.
 
Decompondo sentimentos
Em bioquímicas reações,
Descubro que até
O mais ardente beijo,
É só mais um dos
Orgânicos procedimentos.

Salivares enzimas
Em perfeitas interações.
É dentre todas línguas
A tua que eu desejo.

O orgasmo sexual
Faz a fêmea captar
Mais e mais gametas.
O prazer à serviço
Da reprodução.

E eu que achava,
Fenomenal encarar o gozo
Como explosão magmática
Dos planetas.
 
Nós somos
Eternamente
Desnaturados
Pelas tramas da cultura.

Dotados de
Pulsão, desejo, censura,
Fugindo da concepção
E buscando o prazer
Para não somente,
Sobreviver.

Amo
Em ti
O que em mim
Não posso
 Contemplar.

O que não há
Em mim
No que existe em ti
È que posso me
Completar.
 
Se meus defeitos
Puderes suportar
E se em teu olhar,
O meu verso
Se espelhar,

É que projeto.
Em ti,
O que falta em mim.
Um mar de desejos
Em ondas constantes, sem fim.

Cala-te razão!
Basta de tantas filosofias!
Um brinde à paixão,
A eleger sempre
Tresloucadas dinastias

E a declarar, sem mistérios,
A lei real, do louco desejo:
“― Deves da amada roubar
Mais que centenas de milhões
De beijos.”

3 comentários:

  1. De forma sutil, porém subjetiva. Me deu a impressão do jogo da sedução.
    Gostei de ler alguns termos psicanalíticos que discorreram sobre os atravessamentos dos desejos.
    Gosto da produção de explicações conceituais nos textos poéticos, mas fiquei feliz em ler:

    (...)
    Cala-te razão!
    Basta de tantas filosofias!
    Um brinde à paixão,
    A eleger sempre
    Tresloucadas dinastias
    (...)

    Parabéns querido. ^^

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  2. Paixão e psicanálise pulsando na artéria. E nas veias, apenas o sangue tinto safra 1982.
    Parabéns cara...

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  3. Poema criado ao tema das teorias evolucionistas e psicanalistas sobre desejo e sedução humanas com pitada de elogio da loucura de Erasmo de Rotterdan.
    A safra desse vinho e de aproxidamente 83...
    Valeu pelos comentarios

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