Alice no país das desventuras
Ao invés de adentrar
No mundo das maravilhas,
Alice se diverte
Na escuridão noturna
Das madrugadas irrompidas,
No torpor das drogas consumidas.
A luz do dia, em seus olhos,
Irradia ressaca e tédio burguês.
A noite em seus mistérios convida
A uma caverna de sons e
A mais uma bebida...
A voar nas rodas
De qualquer Pégassos errante
E a delirar nos ardentes sons
Da inefável flauta de alguém
Que a lembre Pã...
Alice só quer se divertir,
Liberar fantasmas reprimidos
E paraísos artificiais consumir
Avessa à hiprocrisia social
Mas Alice entorpecida
Não vê que acabou se tornando
Aquilo que mais desprezara...
Pensando ser rebelde
Em radiante causa nobre
Ela um dia se descobre
Consumidora do descartável
Sendo uma outsider
Do hipócrita sistema burguês.
A música que Alice compõe
Faz uso de acordes
Que nos ajudem a acordar
Da suposta sandice que há
No nosso sistema social capitalista.
Mas quem sou eu pra julgar Alice
Se em meus versos,
Repletos de maluquices,
Estão fartos de ecos dissonantes
De canções compostas no mesmo sistema?
Vá Alice em seu trajeto consumista
Quem sabes encontras um heroína
Que te conduza a um real caminho...
Ou quem sabe uma loira gelada
E maldito cigarro te levem
A filosofar ilusórias verdades...
Ou a companhia do vinho
No enredado banquete
De improvisadas filosofias
Advindas de improfícuas banalidades.
Eu, amante dos versos,
Consumidor de palavras e idéias
Não sei que caminho traçar...
Talvez um dia encontre Alice
Em qualquer encontro de ruas
Perpendicular...
No movimento do mundo
Do qual só a Providência há de saber
Ou mesmo o Acaso,
Senhor das causas materialistas.
Não sei!
Nem sei se um dia quererei saber!
Alice a seu modo noturno
E eu em minha cadeira, pueril e soturno...
Tentamos, a nosso modo,
Encontrar algum abrigo
Encontrar algum abrigo
Em meio ao constante perigo
De habitar, não passageiramente,
No país tétrico das desventuras.