Esquina e brisa
É isso o quê,
O que é isso que você diz?
Eterna indefinição nominal
Tal qual nada,
Palavra usada nas frases enraivecidas
Ou mesmo em relações distantes.
Mas o que será isso
Que você aponta e define?
Tão amorfo e impreciso
Que de tão sólido se desmancha no ar?
O que é isso?
Pelo amor de Deus me diz
O que inconscientemente todos sabem
E que eu, ator, não sei?
E veem e ouvem tudo
Pelas frestas de onde vacilei.
É isso aí companheiro!
Isso que nada diz
Que traduz tudo que já perdi.
Quero escrever sem escolher palavras
Pois elas erram em sua única e preciosa função
Que deveriam executar com maestria:
Falham na possibilidade de exprimir completamente
Aquilo que sensivelmente, pelas bordas do corpo, percebi.
Quero escrever sobre o vazio
Que preenche, mas como poderia eu
Encher de palavras o que é eternamente
Ausente?
Eterna dúvida
Infinito paradoxo
Que se instaura na “desrazão” humana...
Humanos,
Somos nós humanos
Com os braços erguidos ao ar, mantidos,
A sustentar os extremos esquecidos.
Os opostos, sonhos e pesadelos,
Alegrias reais e desmedidos desesperos,
Saciedade espontânea e o vazio do degredo.
Sofro na ânsia de me libertar,
Pulo no ar mais intempestivo
E sussurrando declaro que não posso gritar,
Nem me nomear senhor de meu desejo lascivo.
Quero os cabelos molhados
Pela fina e leve chuva.
Quero os tesouros sonhados
No fim de uma breve curva.
O pequeno desvio traçado
Pela sutil ação do vento
Que torna alegre, o tétrico passado,
Pela erosão de dorido pensamento.
E vejo hoje,
Já com os olhos doloridos,
A verdade que me assombra
A verdade que me assombra
Por frágeis ilusões envelhecidas.
Eu bem lhe digo
Que queria novamente
O não saber onde se destina
A inefável brisa matutina...
Mas ao mesmo tempo lhe digo
Que adoro saber paulatinamente
O que se encontra esquecido,
Oculto detrás de cada esquina...