Delírio prateado
Hoje, quando sofria o frio da solidão,
Acordado sonhei, perdendo a razão:
Olhei a Lua e ela falou comigo
“Por que choras solitário amigo
Deixa-me ouvir teu coração
O que te angustia, que dolosa sensação?”
“Se abra, pois afirmo que consigo
Derramar maldições ao teu inimigo
Desferirei tantos impropérios e turvação
Que ele cairá, a teus pés, te pedindo perdão”.
- Me atrevo a dizer, cara Senhora,
Que expor-te meu mal em nada o melhora
Pois o que me aflige é a solidão
O abandono da alegria; do amor, a privação.
- Não há inimigo que defina
Senão o Tempo, mestre também de ti,
Este senhor que nos ensina
Que tudo passa por aqui.
- Eu te afirmo, gentil Senhora,
Que minha triste prostração
É somente a filha da hora
O fruto de uma breve sensação.
- O momento em que ela se passa
É o instante em que minha vida embaça
O olhar sublime do meu puro amor.
E eu que vivia em alegria
Padeço sem sua companhia
Deliro, emudeço, perco o riso e o calor.
“Desculpe-me, caro poeta”
- disse-me o astro prateado,
“Pensei que sofreste enxovalhos de um inimigo
Porém foste por Eros aturdido
E sofres o mal contido na ponta da sua seta
Ah! Cupido peralta e endiabrado!”
- Minha Senhora, musa dos apaixonados,
Quero lhe pedir apenas dois de seus cuidados:
Leva ao meu amor ausente meu pensamento.
Diga-lhe que a saudade é o pior tormento
E guia-a de volta, para rente ao corpo meu.
Traze-me o encanto que o meu olhar perdeu.
“Farei o que me pedes, senhor educado,
Pois a solidão não deve ser sua eterna companhia”
- E concluiu brevemente o atento satélite,
“Chorar por amor não é pecado
Teu coração atormentado se encherá de alegria,
Entristecido interprete”.
“Estarei daqui do alto
Vigiando teus caminhos
E mesmo sentindo-se solitário
Nunca estarás sozinho”.
“Conduzirei o amor à tua porta
E com o orvalho, farei surgir em tua horta
As mais belas e perfumadas flores
Dotadas de inefáveis cores
Para ofertá-las ao teu futuro amor,
Caro amigo, romântico sonhador”.
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