Transcendência
Imerso em meu mundo
Em meio ao turbilhão
Das águas turvas e túrgidas
De minhas emoções...
Nado num mar bravio
Lamacento e nauseabundo,
Mas respiro calmamente apesar
De tal universo imundo.
Busco traçar o caminho da lótus
Que da lama emerge à superfície
E se mostra alva e limpa e bela
Transcendendo à matérica imundície.
Medito pra ordenar
O caos das minha intempéries
Intempestivas, inenarráveis,
Humanas...
Uma luz branca me envolve
Me protege, me guia.
A calma e a paz me devolve.
Alvo lume que se irradia
Nessa lama escura, densa e fria.
E de repente,
Sorrateira e sutilmente,
Recebo a espiritual pureza
Da lótus mais que divina.
E meu corpo em estado
Alterado de consciência
Coberto de luz,
Vivencia uma divina complacência
Mais que real purificação,
Invade os poros e células,
Músculos, ossos e tendões.
A pureza translúcida
Derrama-se pelo aglomerado caótico
Dos inorgânicos pensamentos
E dos sentimentos dolosos reprimidos.
A luz se propaga
E dá-me a possibilidade
De perceber claramente
A luz e calor do meu privativo
E peculiar oceano.
E tal qual solvente
Vai transmutando a densidade
Do barrento rio original.
Minh'alma se torna repleta
De inefável contentamento
Por fim,
Quando de olhos bem abertos.
Já não sei se o que vivi
Era um sonho real em sensação
Ou se a realidade retirou seu véu
Pelo via do devaneio que construí.
Sendo sonho ou realidade
Seu efeito está inscrito em mim:
Energiza e potencializa
Minha semente criativa.
Ali onde teu olhar falha
Inicia-se como fogo
Em verso e rima, a minha fala...
Algo de vaporoso
Que busca a concretude da língua
Ali onde se dissolve
Em lágrimas e sangue
Um sentimento qualquer.
Teu soneto febril
De mulher viva encarnada
A quadratura sagrada feminil
Em estrofes trinas volatizadas.
Perco-me no ar
Dos pensamentos inauditos
Visto-me de pássaro a plainar
No palco etéreo do contentamento.
Meu olhar te faz real
Nas telas do desejo
E nas grades das saudade
Me faço prisioneiro anormal:
Acorrentado à tua imagem
Não por medo ou rigor,
Mas por paixão e vontade.